E.E JON TEODORESCO

E.E JON TEODORESCO

terça-feira, 12 de junho de 2012

ÉTICA E ESTÉTICA NO COTIDIANO


CARISSIMOS PROFESSORES JONIS;
gostei muito deste texto e quis compartilhar

ÉTICA E ESTÉTICA NO COTIDIANO
Maria Emilia Sardelich[1]

Vamos iniciar a nossa reflexão sobre a Ética e a Estética na Organização buscando o significado desses termos. O que é ética? O que é estética? Como se constrói a norma ética? Que modelos podemos seguir? O modelo oferecido pelos políticos corruptos? O modelo dos profissionais comprometidos com a construção de uma sociedade menos injusta? É possível construir um estilo de vida a partir desses modelos? Quem legitima as normas éticas e estéticas?
No dia-a-dia, no senso comum, a ética refere-se ao conjunto de regras, preceitos, valores que dirigem nossa vida individual e coletiva. Para a Filosofia, a Ética é a área de estudo dos princípios que motivam, disciplinam, orientam ou distorcem o comportamento humano. Para nós, orientadores do Estágio da UNIMES VIRTUAL, propor uma reflexão sobre nossa formação ética e estética é uma espécie de desafio, no sentido de meditar sobre a conseqüência dos nossos atos no interior da cultura contemporânea.
Estamos imersos em uma realidade social sujeita a transformações constantes e permanentemente instável, dado o fluxo contínuo de informação que rapidamente se torna obsoleta. Vivemos em uma ambiência ambígua que tem posto em xeque os princípios que dirigiram o comportamento social durante muito tempo. A liberalização extensiva dos mercados, o consumismo desenfreado, a ambição desmesurada, o desejo de êxito social, a competitividade profissional atropelam o código ético dos diversos grupos sociais.  De um modo geral, a publicidade nos representa como rivais consumistas que nos vangloriamos em possuir alguma coisa “a mais” que nenhuma outra pessoa. A violência estampa as manchetes e imagens dos informativos de qualquer país do planeta revelando a instabilidade do comportamento social: desemprego, quebras financeiras, corrupção, migração massiva, perturbações de todas as ordens. Em que espaços nós podemos discutir essa realidade? A escola tem nos ajudado a situar-nos nessa realidade? A escola trabalha com essa visão de mundo e de homem? Que modelos nos oferece a Escola? Que modelos de profissionais encontramos nas Escolas?
Em nosso estágio vamos tratar a ética como a responsabilidade pelos nossos atos individuais e coletivos. Essa forma de compreensão vincula-se com a estética. Em seu uso corrente, entende-se a estética associada à beleza. Aí estão os cabeleireiros, as academias de ginástica e muitos outros exemplos nas ruas de qualquer cidade.
O vocábulo estética tem suas origens no grego, Aisthetique, que se refere ao conhecimento sensível, a possibilidade de conhecermos por meio dos sentidos, das sensações, a percepção totalizante.  Para a Filosofia, a Estética trata da Arte, das questões sobre a Beleza, o Gosto, a Percepção Artística, entre outras. Em nosso estágio vamos tratar da estética como percepção totalizante.  
Assmann (1996) indica que Aisthesis é o termo grego para a experiência da beleza, daí estética, que expressa etimologicamente a ação −corporal e anímica− de sugar para dentro, inspirar, agarrar envolvendo. Nesse sentido, Aisthesis conota percepção vital, ao invés de esteticismo. O autor lamenta que uma palavra tão expressiva, que alude à percepção e sensação, a uma sensualizada intuição, se desvirtuasse para sugerir contemplação e esnobismo artístico-elitista. Assmann observa que a palavra grega kósmos nunca significou apenas ordem, mas, sobretudo conjunto bonito, do que derivou cosmética. O autor sinaliza que subjaz a todos esses termos uma experiência original da espécie humana diante da harmonia e beleza do cosmo.
Maffesoli (1996) assinala que o termo estético, em seu sentido pleno, compreende a faculdade de sentir em comum e propõe uma “ética da estética”, pois o fato de experimentar juntos é fator da socialização. Esse autor sinaliza que na cultura contemporânea vem se gestando um modo de ser no qual o que se experimenta com os outros, o que se vivencia com os outros, começa a ser primordial. Desse modo, as relações sociais tornam-se animadas por e a partir do que é intrínseco, vivido no dia-a-dia pelo grupo. Nesse sentido, a moral seria universal, aplicável à humanidade em todos os lugares e em todos os tempos. A ética, ao contrário, seria particular, às vezes momentânea, elaborando-se a partir de um território dado, real ou simbólico. A ética, o que agrega o grupo, tornar-se-ia estética, emoção comum.  
É com essa compreensão que propomos a discussão ética e estética na organização: a responsabilidade pelos nossos atos, a ética, que agrega o grupo, torna-se estética, a medida em que nos afeta e configura-se como emoção comum.
Pense na responsabilidade dos atos de um docente. Pense em como esses atos afetam o próprio docente e o grupo com o qual trabalha. Pense em quando um docente emite um juízo sobre um aluno, uma situação, um modelo. Pense nas palavras que o docente dirige aos alunos, e pense em quando o docente não dirige a palavra aos seus alunos. Pense em quando a docente falta às aulas sem dar as razões aos seus alunos. Pense na imposição de regras e atividades que acontecem no ambiente escolar sem nenhuma negociação entre os atores sociais.
Nossa reflexão sobre a responsabilidade docente está inspirada na relação “homem-no-mundo”, ou seja, estar no mundo, e na construção de seu “ser-no-mundo-com-os-outros”, isto é, ser capaz de viver com o Outro entre outros. O mundo é um fenômeno estético. Começamos a ler o mundo com a nossa pele, nossos olhos, narizes, orelhas e línguas. Pense em que para manter-se vivo é necessário estabelecer a relação mais básica da vida que é a respiração, a troca. Ao inspirar somos afetados pela beleza/feiúra do mundo. Nossas respostas estéticas relacionam-se com a forma como tomamos parte no mundo. A cultura do grupo a que pertencemos dirigirá a nossa leitura do mundo para diversas direções, mas ela se inicia pelos nossos sentidos, e a feiúra nos faz recuar, nos encolher em nós mesmos, esconder-nos e desejar um outro lugar.
Como aprendemos com os demais, vamos retomar as idéias de Paulo Freire, a respeito da ética e estética docente:   
O que, sobretudo, me move a ser ético é saber que, sendo a educação, por sua própria natureza, diretiva e política, eu devo, sem jamais negar meu sonho ou minha utopia aos educandos, respeitá-los. Defender com seriedade, rigorosamente, mas também apaixonadamente, uma tese, uma posição, uma preferência, estimulando e respeitando, ao mesmo tempo, ao discurso contrário, é a melhor forma de ensinar, de um lado, o direito de termos o dever de “brigar” por nossas idéias, por nossos sonhos e não apenas de aprender a sintaxe do verbo haver, do outro, o respeito mútuo (FREIRE, 2002:78).
Em uma entrevista realizada por Ira Shor, a respeito da relação entre educação e estética, Paulo Freire sinalizava:
Eu penso que no momento em que você entra na sala de aula, no momento que você diz aos estudantes, Oi! Como vão vocês?,Você inicia uma relação estética. Nós fazemos arte e política quando ajudamos na formação dos estudantes, sabendo disso ou não. Conhecer o que de fato fazemos, nos ajudará a sermos melhores (FREIRE apud GADOTTI, 1996: 509).
Paulo Freire destacava o aspecto ético e estético da docência, pois: "a força do educador democrata está na sua coerência exemplar: é ela que sustenta sua autoridade. O educador que diz uma coisa e faz outra, eticamente irresponsável, não é só ineficaz: é prejudicial” (FREIRE, 2001:73).
E mais: “o ético está muito ligado ao estético. Não podemos falar aos alunos da boniteza do processo de conhecer se sua sala de aula está invadida de água, se o vento frio entra decidido e malvado sala adentro e corta seus corpos pouco abrigados ”(FREIRE, 2000: 34).
Em Pedagogia da Autonomia, Freire ratifica:
Gostaria, por outro lado, de sublinhar a nós mesmos, professores e professoras, a nossa responsabilidade ética no exercício de nossa tarefa docente. Este pequeno livro se encontra cortado ou permeado em sua totalidade pelo sentido da necessária eticidade que conota expressivamente a natureza da prática educativa, enquanto prática formadora. Educadores e educandos não podemos, na verdade, escapar à rigorosidade ética. Mas, é preciso deixar claro que a ética de que falo não é a ética menor, restrita, do mercado, que se curva obediente aos interesses do lucro (...) falo da Ética universal dos seres humanos, que condena o cinismo, que condena a exploração da força de trabalho do ser humano (FREIRE, 1996: 16-17).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSMANN, Hugo. Metáforas novas para reencantar a educação: epistemologia e didática. Piracicaba: Editora Unimep, 1996.
FREIRE, Paulo; Ira Shor. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. 9ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
FREIRE, Paulo. A Educação na Cidade. 5ª ed. São Paulo: Cortez, 2000.
FREIRE, Paulo . À sombra desta mangueira. 6ª ed. São Paulo: Olho dágua, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da esperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 9. edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
GADOTTI, Moacir.org. Paulo Freire: uma bibliografia. São Paulo: Cortez: Instituto Paulo Freire; Brasília, DF; UNESCO, 1996.
MAFFESOLI, Michel. No fundo das aparências: para uma ética da estética.  Petrópolis: Vozes, 1996.


[1] Maria Emilia Sardelich, Doutora em Educação, prof.a da Universidade Metropolitana de Santos. Santos, UNIMES, 2007.